Glooskap by Sharon Matthews
(http://www.sharonmatthews.ca)
Como Glooskap encontrou o Verão
Há muito tempo atrás, Glooskap vagueou muito para norte, até
ao país do gelo, e sentindo-se cansado e com frio, procurou abrigo numa tenda
onde morava um grande gigante – o gigante Inverno. Inverno recebeu o deus
hospitaleiramente, encheu-lhe um cachimbo com tabaco e entreteve-o com
encantadoras histórias do tempo ido enquanto ele fumava. Durante todo esse
tempo, Inverno esteve a enfeitiçar Glooskap, pois, enquanto falava num tom monótono
e entaramelado, provocava uma atmosfera enregelante que a princípio atordoou
Glooskap e que depois o fez cair num sono profundo – a sonolência pesada da
época invernal. Dormiu seis meses seguidos após que o feitiço de gelo se
quebrou e Glooskap acordou. Tomou o rumo de volta a casa, em direcção ao sul e
quanto mais a sul se encontrava, mais quente se sentia e as flores começavam a
despontar à sua volta.
A certa altura chegou a uma floresta vasta e sem trilhos
onde encontrou muitas pequenas criaturas que dançavam debaixo de árvores
primitivas. A rainha deste povo chamava-se Verão, uma criatura extreamente bela
ainda que muito pequena. Glooskap tomou a pequena rainha na sua enorme mão e
cortando um comprido laço a partir da pele de um alce, atou-o ao pequeno corpo
de Verão. Depois começou a fugir, deixando a corda a rastejar livremente atrás
de si.
As pequenas criaturas, que eram os duendes da luz, vieram atrás
dele em grande alarido puxando o laço freneticamente, mas à medida que Glooskap
corria, a corda ia acabando e por mais que os duendes puxassem iam ficando
sempre para trás.
Mais uma vez Glooskap dirigiu-se a norte e chegou à tenda de
Inverno. O gigante voltou a recebê-lo hospitaleiramente e mais uma vez lhe
começou a contar as velhas histórias cujo encanto tanto fascinava Glooskap. Mas
desta vez também Glooskap começou a falar. Verão estava deitada no seu peito e a
sua força e calor imitiam um tal poder mágico que, aos poucos, Inverno começou
a mostrar sinais de incómodo. O suor escorria abundantemente pela sua cara e,
gradualmente, começou a derreter, tal como a sua casa. Depois, lentamente, a
natureza começou a acordar, o canto dos pássaros começou a ouvir-se, a
princípio baixinho, mas depois mais claro e alegre. Os rebentos verdes da relva
nova começaram a aparecer e as folhas mortas do último Outono foram arrastadas
para o rio pela neve que ia derretendo. Por fim, as fadas apareceram e
Glooskap, deixando Verão com elas mais uma vez retomou o seu caminho rumo ao
sul.
Fonte: SPENCE, Lewis, 1997, Guia Ilustrado de Mitologia Norte-Americana, Lisboa, Editorial Estampa