sexta-feira, 18 de junho de 2010

Conspiração Contra os Signos do Zodíaco

  

   Depois de uma noite sem dormir, das duas uma: ou estou completamente zombie ou calma, bem humurada e criativa. Vai daí, hoje lá para as oito da manhã, dei por mim a pensar que um puto que nasça perto do solsticio de verão pode ser na verdade considerado um filho do outono. É tudo uma questão de ponto de vista.
   Facto é que normalmente ninguém é concebido na estação em que nasce e parece-me que para quem apreciar os determinismos dos signos do zodíaco isto devia ser um problema. Então se os ingredientes são de outras estações, se a sua junção se dá  noutros ambientes (com outras energias se preferirem), não deviamos todos herdar traços de personalidade dessa época em vez dos daquela em que nascemos?
  
     

terça-feira, 15 de junho de 2010

A minha Receita para os Fogos de Solstício - Litha

Fogueiras de São João em Idanha a Nova, foto de João Lopes Cardoso 



   Para uma noite de fogo mágico além de boa disposição não há nada como alimentar a fogueira com as ervas tradicionais: "Burganiça, louro e rosmaninho, para estalar e cheirar bem!" como diz a minha avó. Tenho saudades de saltar as fogueiras, lembro-me de passar a tarde a colher burganiça (à esquerda), mas confesso que não tenho qualquer memória do rosmaninho ou do louro, mas adorava voltar a experimentar. Este ano mesmo que, ao contrário de outros tempos, já não seja possível carregar carrinhas de caixa aberta de burganiça gostava de pelo menos queimar um pouco a apimentar a menos tradicional fogueira. Vamos ver se os exames deixam.
                                          Que os vossos festejos sejam felizes!!!

  

terça-feira, 8 de junho de 2010

O São João - excertos de Etnografia Portuguesa de Rocha Peixoto

Pavilhão - além das simples fogueiras na rua havia as fogueiras com
pavilhões construídos e decorados onde dançavam ranchos ensaiados,
com músicas e letras feitas de propósito.
Fonte: http://www1.ci.uc.pt/gfc/fogueiras.htm
  
  Olá, aqui vos deixo mais algumas citações de um artigo da autoria de Rocha Peixoto, desta feita sobre o São João. Um  festejo tradicional muito próximo da data do solstício estival e que, segundo o autor, assumia como carregado de reminescências  de um culto solar e fálico.
   “Na superstição actual é sagrada a água, da meia noite ao romper da alva, e, portanto, incorruptível; pão amassado nela dispensa o fermento; rapariga que com ela se lave fica mais escarolada; até, na tradição normanda, remoçam os velhos, só por apanharem as orvalhadas. Como na noite de S. João está benta, tira as febres e rebenta o cabelo aos calvos; é a água de longa vida; e entre todas as virtudes mais maravilhoso é o seu poder divinatório. Em Vila do Conde dirigem-se as raparigas à fonte, atiram-lhe uma pedra e cantam:

Vamos raparigas todas

À fonte de S. João,

Vamos atirar a pedra,

Ver se casamos ou não.

o que é afirmativo, nesse ano, se cai dentro. Conserva-se um bochecho de água na boca, na meia noite de S. João, até que se oiça o primeiro nome de homem, que será o do noivo; de vários papéis com nomes diversos e lançados na àgua, um se mostrará aberto ao outro dia , revelando o do desposado; [...]

   Na noite de S. João as orvalhadas purificam todas as ervas, mesmo as venenosa e as malfazejas. Enramalham-se os campos e os currais com as plantas colhidas então, para não dar mal aos gados nem o bicho nas sementeiras; a mulher que deseje o cabelo comprido e basto, corta-lhe as pontas e deposita-as no rebentão das silvas; rosmaninho e funcho, alecrim e sabugueiro, servem de para defumadoiros, afastam as trovoadas e livram a casa do raio; o alho afugenta o espírito maligno; o azevinho, que se vai colher dançando em roda, tocando e cantando, é uma erva de boa sorte; enfim:

Todas as ervas são bentas,

Na manhã de S. João,

Só o trevo, coitadinho,

Fica de rastos no chão.

   Menos o de quatro folhas. Esse, colhido na noite S. João e colocado sobre a pedra da ara, faz com que se despose a pessoa desejada.

   Das plantas tiram-se prognósticos relativos ao amor. Em certos países as raparigas compõem um ramalhete com nove flores diversas obtidas em outros tantos terrenos diferentes e colocam-no depois à cabeceira da cama, cuidando em seguida de dormir e sonhar; o que virem em sonhos eis o que se realizará. Consultam-se as plantas, procurando presságios acerca do esposo futuro, como se solicitam os santos dos nichos:

Oh meu santo Eliseu,

Casar quero eu.

ou se indaga das aves:

Cuquinho da ramalheira,

Quantos anos me dás de solteira.[?]

   Chamuscada uma alcachofra na fogueira e posta e posta depois ao relento no telhado, denunciará no outro dia, se reverdesce, a leal reciprocidade do afecto. E para avaliar em qual de ambos é mais intenso, cortam-se dois pedaços de junco muito iguais, que representam os amantes, um dos quais se mais cresceu, indica quem mais sente:

Dizes que me queres bem,

Ainda o hei-de de experimentar;

Na noite de S. João

Junco verde hei-de de cortar.

   Por fim o sentido fálico primitivo das festas transmitiu-se e ainda transparece nos mais insignificantes pretextos da colheita das ervas de virtudes:


Oh que lindo luar faz,

Para colher macela;

Vamos-la colher ambinhos,

Faremos a cama nela.”



   “[...] Depois dos vestígios dos cultos da água e das plantas distinguem-se ainda os que se filiam no fogo. O astro, iluminando neste dia todo o céu, tem em toda a festa que se lhe consagra, o símbolo nas fogueiras. É o galheiro ou facho da Beira Alta, nos outeiros, e as mais modestas laberedas das quintãs. [...]

   Como a festa é de triunfo e de fecundidade, à fogueira também se liga uma intenção benéfica ou divinatória. O nome do pobre que se liga uma intenção benéfica ou divinatória. O nome do pobre que recebe uma moeda atirada à fogueira do S. João será o do noivo que caberá à rapariga que deu a esmola. Saltando pelas fogueiras é bom dizer:

Fogo no sargaço,

Saúde no meu braço.



Fogo no rosmaninho,

Saúde no meu peitinho.

Etc.”
   Outras referências ao aspecto fálico do festival estariam segundo R. Peixoto noutras quadras que representam o Santo como um sedutor, algo inesperado e desconcertante no seio do catolicismo:

“S. João para ver as moças

Fez uma fonte de prata;

As moças não vão a ela

S. João todo se mata.”



“À porta de S. João

Nascem rosas amarelas;

S. joão subiu ao céu

A pedir pelas donzelas.



S. João diz que é velho,

É velho mas tem amores,

Que lhe acharam no bolso

Um raminho de flores.



S. joão fora bom santo

Não fora tão gaiato,

Levava as moças p’ra fonte

Iam três e vinham quatro.

Na noite S. João

É que é tomar amores,

Que estão os trigos no campo,

Todos cobertos de flores.”



“S. João adormeceu

Nas escadas do coro,

Deram as freiras com ele,

Depinicaram-no todo.”

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Às vezes é preciso Parar

  
   Há semanas horríveis! São aquelas semanas em que vivemos dias de 48 a 72 horas, em que nos sentimos doentes do corpo à alma, chumbamos a frequências e não se entregam trabalhos ou simplesmente preferiamos ter tido um zero. São aquelas semanas em que gritamos com as pessoas erradas, reencontramos cicatrizes antigas, rebenta um abecesso ao gato, achamos um corvo ferido e a cadela tem um parto dificil; perdemos as chaves de casa, e por onde quer que andemos fazemos os cães rosnar, e os bébés chorar. São aquelas semanas em que o ex namorado se lembra de nos informar que quer ir para a cama conosco, e no dia seguinte anda no centro comercial a passear com a mulher grávida; duas das nossas amigas decidem apaixonar-se e chorar baba e ranho, a net vai abaixo de 30 em 30 segundos, a senhoria aumenta a renda, o lava louça entope e a nossa tia descobre-nos no local errado, à hora errada. São aquelas semanas em que se não estivessemos a tentar sobreviver, certamente estavamo-nos a matar.
   Nestas semanas preciso de forças mas irónicamente o melhor remédio parece não ser café, mas sim parar. Pelo menos uns minutos ao fim do dia, quando travei mais uma batalha mas ainda não venci a guerra, e neste dia ainda há muito para lutar. Parar 15 minutos, que com sorte até já incluem e deslocação visto que o stress me faz voar... Parar para respirar, de olhos fechados, caída no pinhal ou no cimento de um recanto morto da grande babilónia ... Parar a ouvir, a cheirar e a sentir... a imaginar que ganho raízes ou estou dentro de um útero acolhedor. Quinze minutos para desapertar o nó que sinto na garganta, pedir aos músculos dos braços e pernas para pararem de tremer e baixinho num soluço chorar abraçada à Mãe.