sexta-feira, 30 de abril de 2010

Fogo de Belenos – fertilidade e sexo seguro



“No Imbolc, são movimentadas as energias que produzirão o ovo. No Ostara, o ovo é formado , e no Beltane, fertilizado”

   O sexo pode ser uma via de louvar a fecundidade, a paixão e o amor ou um meio para se atingir o extase, e tem, portanto, um lugar reservado em muitos cultos. 
   Devido ao seu significado o beltane é uma das épocas do ano em que mais se recorre ao sexo ritual no sentido literal do termo. Mas uma vez que não se trata apenas de uma experiência espiritual mas também social e fisica, que acarreta riscos; é também uma época em que devemos ser ainda mais auto-criticos e racionais em relação às nossas práticas.
   O sexo é divertido mas não deixa de ser um assunto sério, e se não for divertido, então mais sério o caso fica. Um coito desagradável, uma gravidez não planeada, uma DST, confusão de sentimentos ou o fim abrupto de um relação, são algumas das consequências mais usuais de uma decisão tomada de ânimo leve e definitivamente não são coisas muito agradáveis.
   Assim, que sentido faz a cópula à luz das fogueiras de belenos? Se o objectivo é louvar a fecundidade fará sentido recorrer a algum tipo de contracepcção ou método abortivo? Fará algum sentido louvar a paixão e amor sem ser com aquele que os desponta? E se essa pessoa não for adepta da mesma cosmologia? Qual a probabilidade de se atingir o êxtase com um individuo com o qual não temos confiança? O uso do preservativo pode estar fora de questão no louvor da fecundidade mas estará também no louvor das emoções? Uma pessoa que recusa o uso do preservativo e não nos apresenta provas médicas do seu estado de saúde, respeita a vida?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

As Maias e o Maio Moço – 1º de Maio

   

    O texto que se segue foi extraído da obra Etnografia Portuguesa de Rocha Peixoto. Trata-se de um artigo publicado originalmente no jornal O Primeiro de Janeiro, do Porto, em 1 de Maio de 1894 sobre uma festa tradicional que ocorreria à entrada de Maio e que na opinião do autor assim como na minha continha significados pagãos anteriores ao catolicismo na P. Ibérica. A qualidade desta recolha etnográfica pode conter todas as fragilidades da recolha etnográfica da sua época e quanto a isso a meu ver nada pode ser feito, no entanto pareceu-me digno de ser citado e recordado.




“[...] As giestas são associadas ainda aos enfeites das Maias e do Maio moço. Em várias terras de Portugal, como na Provença, como em outras partes, costumava-se adornar uma criança com flores, sentá-la numa mesa e rodeá-la de raparigas que cantam, dançam e tocam adufes; quem passa é perseguido até que deixe um presente à Maia. Noutras os grupos dançam pelas ruas e pedem esmola; noutras ainda é um homem a cavalo ou um rapaz todo vestido de giesta florida e acompanhado de outros rapazes e de raparigas cantando:



Este Maio, moças,

Era boticário,

Vendeu a botica

P’ra comprar um saio.



O saio era roto,

Botica perdida;

Agora, meu Maio,

Procura tua vida.



dando vivas ao Maio e dizendo quadras semelhantes.

   No Algarve faz-se uma boneca de palha, a Maia, coberta de flores, e em volta da qual, à noite, as raparigas bailam e cantam:

O meu Maio-moço

Ele lá vem,

Vestido de verde

Que parece bem.



O meu Maio-moço

Chama-se João,

Faz-me guarda à porta

Como um capitão.

Etc.



   Em Lagos fazia-se uma procissão, no dia de hoje, em que ia um rapaz a cavalo, adornado de flores e jóias de empréstimo; como certo ano um fugisse é ofensivo perguntar a muita gente se já voltou Maio.

   Noutras províncias, e no Algarve principalmente, vai-se armar a Maia celebrando um banquete no campo, bricando-se e folgando-se até que, ao escurecer, a Maia desça do seu trono tapetado de verduras. É no mês de Maio que se cumprem as promessas no Algarve; é no dia 1 que se implora a proteção da Virgem às sementeiras; é ainda hoje o dia do enramalhamento dos currais para que não dê o quebranto ou não falte o alimento aos gados.

   Destas festas realizadas ao entrar o mês de Maio perdeu o povo a significação, não vendo nelas, naturalmente, os vestigios do velho mito solar em que o verão, entrando em luta com o inverno, acabava por vencê-lo. [...]”

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Incenso para Defumação

 

   Hoje acordei inspirada e capaz para uma defumação, já me andava a preparar há uns dias limpando a casa nos tempos livres. Bem sei que as luas têm os seus significados e indicações, mas quando a inspiração bate à porta acho por bem deixá-la entrar e assim foi. Ao som de uma musica apropriada, agarrei na minha caixa de incensos, no carvão, olhei para as minhas ervas e foi isto que saiu:

Incenso para Defumação

Olibano
Alfazema
Eucalyptus globulus (o mais comum em Portugal)
Eucalyptus citriodora
Menta

   Reduzir a pó o olibano em grão, e esmagar as restantes ervas secas. Depois é só queimar com carvão de auto-ignição ou uma brasa da lareira que eventualmente esteja por perto.
   As quantidades foram a olhometro e devem ser ao gosto de cada um, mas aconselho 2 partes de olibano, para uma de alfazema.
  Tem um aroma muito agradável, o que nem sempre acontece nos incensos para este fim e respeita a simbologia enunciada por Scott Cunningham em O Livro Completo de Óleos, Incensos e Infusões.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dar um rosto à deusa

   
   As pessoas são contraditórias, afirmam constantemente incongruências sem aparentarem qualquer tipo de conflito interno. Isto é especialmente verdadeiro no campo do mágico religioso: "Não acredito em bruxas, mas lá que as há, há!", "Não sou nada católica, não ligo nada a Deus e essas coisas, mas pela Nossa Senhora de Fátima tenho uma devoção enorme, já me ajudou muito." Esta ultima afirmação fascina-me especialmente, mais uma vez deparo-me com um fenómeno curioso. Os católicos, reconhecem Deus como o todo poderoso mas relacionam-se muito mais intimamente com o santos, porquê? Porque se sentem as pessoas mais próximas dos santos que do seu deus omnipotente?
  
   A resposta que vos sugiro surge na obra conjunta de Diana L. Paxon e Marion Zimmer Bradley, A Sacerdotiza de Avalon: - Porque é dificil amar uma coisa distante e sem rosto. Proibidos de representar Deus os católicos acabam por praticar idolatria com os santos pois não resistem a esta necessidade humana de criar representações. E eu também não escapo a esta necessidade, antes de vir para Coimbra todas as noites esticava o pescoço fora da janela e procurava a lua. Mas agora que os meus pais mudaram de casa, nem ao fim de semana posso fazê-lo e senti a necessidade de um novo rosto.
   
   Vai daí voltei a tropeçar numa estatueta que deambula pela casa desde a minha infância. Uma mulher envolta num manto azul, com um crescente aos pés e rodeada por crianças, que muito bem podia ser a junção das duas facetas Donzela e Mãe.  Trata-se da Senhora da Imaculada Conceição, protectora das crianças, um sincretismo sedutor não estivesse a imagem benta.
  
   Portanto a busca continua  e embora tenha encontrado diversas imagens lindíssimas na net quero algo mais palpável e pessoal. Penso que vou seguir a sugestão Jeane do Witch Clubhouse e criar eu mesma um rosto com massas e grãos pois quero tê-la na minha cozinha.



O plural de deusa é Deusa

  
  Sou mulher, consigo contar a história da vida pelo feminino e por isso falo em deusa. Deusa ou Deusas, no singular ou no plural, em verdade vos digo não há assim tanta diferença, pois é como a minha mãe que é católica me ensinou: "todas as virgens do mundo são a virgem Maria, mãe de Jesus". Todos os deuses podem conjugar-se num deus, todas as deusas, numa deusa e tudo isto num unico principio criador.

Podemos ver o mundo em panoramico...

"A Deusa é tudo o que há na Natureza
e tudo na Natureza é sagrado
Olha... aquele é o seu rosto
Escuta...esta é a sua voz
Ela é tudo o que é belo e o que é horrível também
A Deusa mantém tudo em equilíbrio
O bem e o mal, a morte e o renascimento, o predador e a presa
Sem ela o caus e a destruição prevalecem"
(filme The mists of Avalon dirigido por Uli Edel) 


...ou por partes,
"Eu sou a flor que desabrocha no ramo
Eu sou o crescente que coroa o céu
Eu sou a lu que cintila na onda
e a brisa que arqueia as ervas novas.
Homem algum jamais me possui,
e todavia sou o fim de todo o seu desejo.
Eu sou a caçadora e a sabedoria sagrada, 
Espirito da Inspiração e Senhora das Flores [...]"

"Eu sou o sol em todo o seu esplendor
e o vento quente que amadurece o grão.
Entrego-me na altura e na estação própria,
E produzo abundância.
Eu sou amante e mãe dou à luz e devoro,
Eu sou a amante e a amada
e o meu ventre é uma grande taça"

"Eu sou o quarto minguante, cuja a foice colhe as estrelas.
Eu sou o sol quando está no poente
e o vento frio que pronuncia as trevas
Estou madura de anos e de sabedoria;
Vejo todos os segredos para além do véu.
Eu sou Bruxa e Rainha das Colheitas, Feiticeira e Sábia,
e um dia tu hás-de pertencer-me..."
(Marion Zimmer Bradley)

...dividindos por funções, significados, panteões e atribuições pessoais criando sem medo um quadro conceptual mais estável para nós próprios porque se há moda de Jung os deuses são ideias então este é um direito que me assiste.