segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

2 de fevereiro - Senhora das Candeias

 flor de oliveira por M Cruz


    Imbolc, Candlemas, Festa de Brigida... por aqui tradicionalmente chamamos-lhe Dia da Senhora das Candeias, nome cristão que remete para o fogo, que logo se associa ao festival (neo)pagão. Segundo a minha avó este dia assinala o inicio da floração das oliveiras (oliveiras = azeite = luz) e é tempo de se comerem filhoses (antigamente tb fritas em azeite), que segundo ela têm anualmente três dias específicos: o natal, 8 de Dezembro (Imaculada Conceição) e este.
   Igualmente tradicionais em Portugal são os prognósticos do tempo e existem diversos dizeres semelhantes ao seguinte:  «se as candeias rirem o Inverno está dentro, se as candeias chorarem o Inverno está fora». Ou seja, se neste dia fizer sol metade do Inverno ainda está para vir, mas se chover metade do Inverno já se foi. Vamos todos prever até porque se falharmos podemos desculpar-nos dizendo que é ano de El ninõ ou La ninã ou que os tempos estão todos trocados...  ;P 
   Deixo-vos então uma receita que não é de filhoses mas de sonhos, que vá lá são parentes e neste caso pelo muito fáceis e rápidos de fazer.

Sonhos Pobrezinhos
(a receita tem este nome por ser considerada uma versão mais económica que as tradicionais)

1 ovo
6 colheres (sopa) de farinha
1 colher (chá) de fermento em pó para bolos
raspa de 1 laranja e sumo de meia
1 pitada de sal
água q.b.

Óleo de girassol (para fritar)


Desfaz-se a farinha num pouco de água; junta-se a raspa e o sumo de laranja, o sal, o fermento e a gema de ovo e por fim a clara batida.
Fritam-se em óleo vegetal, doseando-se a massa às colheradas. quando estiverem bem loirinhos tiram-se, põem-se a escorrer e passam-se por açúcar e canela ainda quentes.

Obs: Há quem goste de adoçar um pouco a massa ou aromatizar com um pouco de agua ardente. Eu cá acho que devem seguir a vossa intuição e adaptar a receita de forma tão simples ou exuberante quanto vos apetecer. 






segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Cantico das Criaturas de Francisco de Assis



   Costuma-se dizer que não há regra sem excepção e S. Francisco de Assis sempre me pareceu uma no seio do catolicismo. Hoje deixo-vos o cântico das criaturas ou cântico do irmão sol, é uma publicação cliché para um blog como o meu, mas não resisti porque, num mundo em que o homem fora colocado no centro do universo, tratar por irmã a mãe terra soa a heresia.
   Mesmo hoje o franciscanismo destaca-se por focar a relação com a natureza sendo fascinante ler sobre o Humanismo Franciscano e a Ecologia. Para quem sinta curiosidade por esta teologia que se aproxima dos valores do xamanismo e do neo-paganismo aconselho uma visita ao site: http://www.capuchinhos.org/. como primeiro passo para uma pesquisa segura do assunto.



Cântico das Criaturas



Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,

a ti o louvor, a glória,

a honra e toda a bênção.

A ti só, Altíssimo, se hão-de prestar

e nenhum homem é digno de te nomear.



Louvado sejas, ó meu Senhor,

com todas as tuas criaturas,

especialmente o meu senhor irmão Sol,

o qual faz o dia e por ele nos alumias.

E ele é belo e radiante,

com grande esplendor:

de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.



Louvado sejas, ó meu Senhor,

pela irmã Lua e as Estrelas:

no céu as acendeste, claras, e preciosas e belas.



Louvado sejas, ó meu Senhor,

pelo irmão Vento

e pelo Ar, e Nuvens, e Sereno,

e todo o tempo,

por quem dás às tuas criaturas o sustento.



Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Água,

que é tão útil e humilde, e preciosa e casta.



Louvado sejas, ó meu Senhor,

pelo irmão Fogo,

pelo qual alumias a noite:

e ele é belo, e jucundo, e robusto e forte.



Louvado sejas, ó meu Senhor,

pela nossa irmã a mãe Terra,

que nos sustenta e governa,

e produz variados frutos,

com flores coloridas, e verduras.



Louvado sejas, ó meu Senhor,

por aqueles que perdoam por teu amor

e suportam enfermidades e tribulações.

Bem-aventurados aqueles

que as suportam em paz,

pois por ti, Altíssimo, serão coroados.



Louvado sejas, ó meu Senhor,

por nossa irmã a Morte corporal,

à qual nenhum homem vivente pode escapar.

Ai daqueles que morrem em pecado mortal!

Bem-aventurados aqueles

que cumpriram a tua santíssima vontade,

porque a segunda morte não lhes fará mal.



Louvai e bendizei a meu Senhor,

e dai-lhe graças

e servi-o com grande humildade.





quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Apátrida


Era perto de casa, um sitio calmo onde tive um raro momento de visualização, onde vi e fotografei coisas lindas, onde dormi belas sestas e escutei a voz do vento...



E no domingo passado acordei, fui ao jardim e descobri que só restava isto. Um sinal dos tempos talvez... a silvicultura é um investimento a longo prazo, eles cresceram, eu cresci e  simplesmente chegou a altura da sua colheita. 
Talvez seja uma forma de egoismo, mas estou triste, no coração este sitio também era meu e já foram tantas as perdas. A maior dor do crescimento talvez seja a transformação do espaço, pouco resta do meu mundo. Talvez seja altura de abrir as asas e partir. Plantar os meus próprios pinhais, criar o meu próprio mundo, mas  ainda é tão dificil ir.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Problemas de Visaulização - um lamuriento desabafo

  Cosmic Bidge by Sigrid Nepelius
   Olá!
   Já há uns tempos que não escrevo nada de jeito por aqui, e há uma boa razão para isso. Há uns anos que insisto em ler uma obra que promove o auto conhecimento, porque acredito que ao repetir cada ciclo cresço mais um pouco. Porém nunca é fácil e há muitos momentos de frustração. Gira tudo em torno de um velho problema - visualização.
   Primeiro pediram-me para encontrar, visitar e sentir lugares sagrados e eu achei que seria praticamente impossível devido à construção de uma nova estrada nacional, que desflorestou o que restava da floresta da minha infância. Pensei em revisitá-las em espírito mas não se revelou fácil, a minha memória não é visualmente muito nítida e temi que ao forçar em vez de recordar criasse memórias falsas, coisa que não desejo para a minha infância. Adiei o confronto com o problema.
   Mas depois pediram-me directamente para visualizar, porque como escreveu Dion Fortune "a magia é a arte de mudar a consciência pela vontade". Mais uma vez a coisa não correu muito bem. Por um lado fui educada para louvar coisas invisíveis, por outro sempre me disseram para ter cuidado com a imaginação, a racionalidade, essa sim, era segura. Pelo que ver deuses e gnomos revelou-se tarefa ingrata e há qual não me consigo apegar. O meu contacto com a divindade sempre foi por pensamentos sobre a forma de palavras, sentimentos e súbitas ideias. Perante a minha dificuldade aconselharam-me a tentar na floresta ao que respondi: - Qual floresta?
   Pensei que talvez precisa-se de exercícios mais simples, realmente mais simples, do tipo olhar para uma flor durante algum tempo e depois visualizá-la de olhos fechados. Mas revelaram-se ainda mais difíceis, ao que parece quando fecho os olhos o meu cérebro simplesmente pára. Eu sempre soube que sonhava mais de olhos abertos mas tinha esperança que o treino mudasse isso... bem até à data não mudou e ao que parece entre os meus conhecidos sou a única assim. E nem vamos falar de construir cenários surrealistas porque a resposta adivinha-se.
   O que mais me irrita é que quando me ponho a lavar loiça, aspirar, etc... entro imediatamente em devaneios românticos muito pouco plausíveis. Quando não me perco nestes devaneios sou assaltada por memórias de todo o tipo de peripécias ridicularizantes pelas quais tenha passado na vida. Recordei-me porque detesto agir como uma menina prendada, simplesmente sinto-me mesquinha e desapaixonada. 
   Assim no fim de mais uma lua com resultados discutíveis decidi virar a página e espreitar o próximo capitulo, optimista com a ideia de que seria sobre magia herbal. Pois bem, não era, a minha memória traiu-me novamente. Digamos que tenho que visitar locais sagrados com raízes pagãs e imaginem só... visualizar como eram no tempo dos cultos pagãos, não só as estruturas mas também as práticas... sim as práticas, poderia haver terreno mais movediço, para um racionalista vindo de arqueologia? 
   É bem possível que esteja a fazer uma tempestade num copo de água, não é? Que só tenha que relaxar. Mas a questão pode também ser um pouco mais profunda. Afinal com tão fraca imaginação, posso vir ainda a encaixar-me numa prática religiosa extática, ou não? Esta pode ser aliás a definitiva linha de cisão entre a minha cosmologia e a wicca. E se não for extática, que mal há? Porque é que eu sinto isso como um problema? Por parecer-me que me aproximo do cristianismo? Isso não é verdade e além do mais o que não falta são relatos de êxtase religioso no cristianismo.
    Enfim são estas as grandes questões que tenho que trabalhar e que ao fim de tantos anos ainda não me sinto preparada para responder. Mas sei que não vale de nada virar-lhe as costas.

P.S.-Não tenham medo de dar ideias e opiniões que eu bem preciso delas. E sim já pensei nos aditivos e abstinências mas não me parece que fossem boa ideia para mim.