quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Outras rodas III - A passagem das estações num mito Iroquês


   

                                   Glooskap by Sharon Matthews
                                                                     (http://www.sharonmatthews.ca)


Como Glooskap encontrou o Verão 



     Há muito tempo atrás, Glooskap vagueou muito para norte, até ao país do gelo, e sentindo-se cansado e com frio, procurou abrigo numa tenda onde morava um grande gigante – o gigante Inverno. Inverno recebeu o deus hospitaleiramente, encheu-lhe um cachimbo com tabaco e entreteve-o com encantadoras histórias do tempo ido enquanto ele fumava. Durante todo esse tempo, Inverno esteve a enfeitiçar Glooskap, pois, enquanto falava num tom monótono e entaramelado, provocava uma atmosfera enregelante que a princípio atordoou Glooskap e que depois o fez cair num sono profundo – a sonolência pesada da época invernal. Dormiu seis meses seguidos após que o feitiço de gelo se quebrou e Glooskap acordou. Tomou o rumo de volta a casa, em direcção ao sul e quanto mais a sul se encontrava, mais quente se sentia e as flores começavam a despontar à sua volta.

    A certa altura chegou a uma floresta vasta e sem trilhos onde encontrou muitas pequenas criaturas que dançavam debaixo de árvores primitivas. A rainha deste povo chamava-se Verão, uma criatura extreamente bela ainda que muito pequena. Glooskap tomou a pequena rainha na sua enorme mão e cortando um comprido laço a partir da pele de um alce, atou-o ao pequeno corpo de Verão. Depois começou a fugir, deixando a corda a rastejar livremente atrás de si.

    As pequenas criaturas, que eram os duendes da luz, vieram atrás dele em grande alarido puxando o laço freneticamente, mas à medida que Glooskap corria, a corda ia acabando e por mais que os duendes puxassem iam ficando sempre para trás.

    Mais uma vez Glooskap dirigiu-se a norte e chegou à tenda de Inverno. O gigante voltou a recebê-lo hospitaleiramente e mais uma vez lhe começou a contar as velhas histórias cujo encanto tanto fascinava Glooskap. Mas desta vez também Glooskap começou a falar. Verão estava deitada no seu peito e a sua força e calor imitiam um tal poder mágico que, aos poucos, Inverno começou a mostrar sinais de incómodo. O suor escorria abundantemente pela sua cara e, gradualmente, começou a derreter, tal como a sua casa. Depois, lentamente, a natureza começou a acordar, o canto dos pássaros começou a ouvir-se, a princípio baixinho, mas depois mais claro e alegre. Os rebentos verdes da relva nova começaram a aparecer e as folhas mortas do último Outono foram arrastadas para o rio pela neve que ia derretendo. Por fim, as fadas apareceram e Glooskap, deixando Verão com elas mais uma vez retomou o seu caminho rumo ao sul.


Fonte: SPENCE, Lewis, 1997, Guia Ilustrado de Mitologia Norte-Americana, Lisboa, Editorial Estampa