segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Yule - um parto de inverno



   Como vos falar das sensações? Não há em mim um génio de grande poeta que faça justiça ao vento e à chuva, ao cheiro da Terra, à dor de um carvalho ferido ou ao olhar de um animal tão gelado como vós que por vos reconhecer como igual já não vos teme... Nem mesmo do estalar de uma fogueira, que por fim vos aquece o regresso a casa, vos sou capaz de falar.

   O significado do yule (solsticio de inverno) é todo o significado do parto, uma luz que nasce da própria escuridão, a personificação da esperança numa criança, esperança na renovação daquilo que está gasto, cansado, apagado. É o grande passo para a Primavera força e plenitude da juventude das coisas. Mas um passo doloroso cheio de dores e sangue, um passo que passa pelo pico do inverno antes dos primeiros raios de sol realmente quentes.

  Entender o que escrevi em cima é fácil, vivenciá-lo é unico, transcendental e dificil. Só partilhando as dores da terra sentirão a essência do pensamento xamânico do sapiens em vez do desligado materialismo do tecnologicus. Por isso digo-vos para irem vocês mesmos.


(fonte da imagem: http://3.bp.blogspot.com/_Hn8NxlFY1hA/RvvQ4l1XxUI/AAAA [acedido a 21-12-2009])AAAAACU/Ji8juM8fmGo/s400/foggy_forest_1_1024.jpg

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"Tu Natal, mim Yule" (dicas para uma coexistência pacífica)



  Não é só o peru que se sente ameaçado, há vários anos que vivo o dilema natalício. A dada altura da minha vida deixou de ser só a revolta pela capitalização da época, os seus crimes ecológicos e o facto de só se lembrarem dos pobres uma vez por ano. Ao assumir que não era católica passou a ser um dilema ético. Eu não queria ir à missa nem beijar o menino, gostava de fazer o presépio mas parecia-me uma falta de respeito fazê-lo.
  A revolta chegou ao ponto de me sentir como o Grinch enquanto estava à mesa durante a ceia, mas felizmente descobri alguns truques de sobrevivência. Aprendi a divertir-me com pequenas travessuras: pôr um discreto gnomo no presépio ou na àrvore de natal, mesmo debaixo do nariz cristão; acender uma bonita vela junto à janela da sala de jantar; contar uma história com principios do pensamento xamanico a uma criança irrequieta; ou oferecer um livro de mitologia comparada a um adolescente. Também iniciei uma revolução silenciosa, que muito custou ao meu ego, passei a oferecer coisas feitas por mim e a sugerir que me oferececem utilidades. E por último resignei-me à ideia de que mais vale ajudarem uma vez por ano que nunca.
  Actualmente refugio-me por detrás de uma máscara antropológica e aproveito este dia para conviver alegremente com os meus familiares. No futuro, quando tiver filhos muito provavelmente não vou fazer presépio em minha casa, mas pretendo que o façam em casa dos avós. Quero que eles conheçam e aproveitem o que eu aproveitei quando ia ao pinhal apanhar musgo. Quero que sintam o cheiro do musgo, a terra húmida nas suas mãos, o vento frio a acariciar-lhes o rosto, que vejam os cabelos dos outros cintilar com a gotas de orvalho e colham ramos com bugalhos para fazer de árvores. Quero que brinquem com os mais velhos enquanto constróem o presépio, fazendo montes e vales... E acima de tudo, quero que aprendam o sigificado do natal cristão e do yule da mãe, que respeitem ambos e que um dia possam escolher livremente.

Dicas para um Natal mais ecológico

Luzes de natal:
   Mantenha-as acesas um número limitado de horas acendendo-as quando chega do trabalho e apagando ao ir deitar-se ou elimine-as por completo.


Enfeites de natal:
   Pode optar pelos artificiais que são facilmente reutilizados, nesse caso convém escolher uns dos quais não se canse rápidamente. Se optar pelos naturais o ideal é optar por plantas envasadas, lembre-se que o azevinho e a gilbarbeira são espécies em risco. Se vive numa zona ecológicamente saudável então certifique-se de que faz a colheita sem prejudicar a sobrevivência das plantas. Pode também inovar usando espécies menos tipicas e que não estejam em risco.


Embrulhos:
   A menos que, como a minha avó, abram os presentes cuidadosamente com o intuíto de guardar o papel de um ano para o outro, eles são de facto um crime ecológico. O objectivo do embrulho é manter o suspanse, por isso seja original. Guarde-os todos juntos num grande saco de tecido e entre à meia noite na sala como se fosse de facto o pai natal. Acaba por ser um embrulho personalizado e reutilizável todos os anos.
Uma outra propósta veio de um jantar de natal de amigos meus. Todos os presentes foram embrulhados em papel de jornal o que surpreendentemente produziu um efeito engraçado.


Louça e Talheres:
   É uma grande festa e é certo que se vai sujar muita louça mas seja tradicional e evite os descartáveis, a mesa ficará muito mais elegante.

 
Ementas de Natal:
   O tradicional bacalhau está em vias de extinção, pelo que optar por pratos alternativos é sensato ou pelo menos adquira bacalhau de média/grande dimensão. O peru também é bastante típico, se optar pelo peru prefira animais de criação caseira, além de serem mais saudáveis, viveram e morreram com mais dignidade que os dos grandes aviários. Mas não se fique por aí, dê asas à imaginação e esteja aberto às sugestões de outras dietas:


Assado de amêndoas e caju
(confesso que nunca experimentei esta)


Ingredientes (4 pessoas):
 
4 cebolas médias
5 tomates maduros
2 cenouras médias, raladas
4 fatias grandes de pão integral (duro), esfareladas
100g de amêndoas, moídas
100g de castanhas de caju, moídas
1 colher de sopa de azeite
Sal, a gosto

Preparação:
1º Aqueça o azeite e refogue ligeiramente as cebolas, bem picadas.

2º Retire a pele dos tomates e corte-os em cubos. Adicione-os ao refogado de cebolas, juntamente com as cenouras raladas. Deixe cozinhar durante alguns minutos em lume médio.

3º Esfarele o pão e adicione-o ao preparado anterior. Misture bem. Junte as amêndoas e o caju e deixe cozinhar durante 15 minutos. Tempere com sal.

4º Aqueça o forno a 200ºC.

5º Coloque a mistura numa forma (rectangular) ligeiramente oleada, e comprima um pouco o conteúdo. Leve ao forno durante 30 minutos.


Resíduos:
   Após uma grande festa já se sabe que há muito para arrumar e limpar mas por favor não seja preguiçoso, separe o lixo e deposite-o no ecoponto. Se ainda não é um hábito seu entenda-o como um presente à Mãe Terra.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O círculo e a espiral




   Hoje gostava de partilhar convosco o significado de dois símbolos muito especiais para mim. O significado que vos apresento é uma interpretação pessoal mas que acaba por estar de acordo com diversa bibliografia, pelo que tomo a liberdade.
   O círculo simboliza a natureza cíclica da Vida, parece bastante óbvio, abundam os exemplos como o ciclo da água. Então e a espiral? O traço de uma espiral não passa na verdade da interligação de círculos dispostos dentro de círculos. Assim a espiral simboliza tanto a natureza cíclica da Vida como a interligação dos diferentes ciclos do universo (partes do sistema, orgãos do organismo vivo que é o cosmos), sendo também um excelente símbolo para a progressão espiritual.
   Não é necessário tornar isto muito transcendental. Basta pensar, por exemplo, na relação dos ciclos de luz e escuridão e da passagem das estações com o movimento rotativo da Terra e o ciclo da órbita da Terra em torno do Sol. Certo!?
   A profunda compreensão destes símbolos é fundamental tanto para o xamanismo como para a wicca e tem o poder de transformar até a esquematização da glaciação de Wurm, na aula mais enfadonha, numa experiência quase religiosa. :)   

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Allah ouve melhor à noite


   Partilhar ideias com outros seres humanos tem destas coisas. Numa bela tarde de Verão, Salu Salui quase do nada disse-me a solução para as crises de fé. O importante era definir para nós próprios o que era Deus, só assim podiamos acreditar.
    Recomendou-me então um exercício que, segundo ele, muitos muçulmanos praticam na sua busca pela fé. «Há noite, de madrugada, quando Allah ouve melhor, deves purificar-te e vestir uma roupa de tecido crú limpa, o ideal é ter sido feita por ti. Então deves ficar a noite toda acordada a orar, não precisa de ser uma oração longa podes repetir apenas duas palavras como - "Allah perdoa-me!" [estas eram as que ele usara]. Faz isso por muitas noites seguidas e uma noite vais sentir uma coisa muito especial e algo de maravilhoso vai acontecer-te. [...] Não te preocupes que não vais tornar-te muçulmana mas vais conhecer Deus, o teu Deus.»
   É um exercício poderoso que intuitivamente eu já tinha realizado e que recomendo mesmo para quem os deuses não passam de ideias ou símbolos. De alguma maneira escutar a noite transforma-nos. Não sei explicar o fenómeno por linguagem científica, só sei que seja entender deus(es) ou poesia é me sempre mais fácil a esta hora.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Apresentação



Olá
   Já ouviram falar na roda do ano? Provavelmente já. É uma das visões cosmológicas mais lógicas para quem vive num país com quatro estações. Eu vivo num país assim, ainda que não saiba ao certo por quanto mais tempo assim será. É um país com plantas e animais magníficos e todos eles podem ser felizes se o sapiens der jus ao seu nome.
   Costumam dizer-me que sou wiccana, mas eu acho que não, pois se fosse certamente me identificava com os muitos wiccanos que conheço. Já fiz rituais com alguns, já jantei, já conversei... mas a verdade é que poucos me parecem ecológicamente sensatos e humanamente tolerantes.
  Eu sou eu, não sou perfeita, estou em construção e envergonho-me de muitos dos meus actos. Busco uma cosmologia, não é que seja uma novidade na minha vida mas desde que fui desenraizada sinto-me amnésica e desligada, o mundo de betão sufoca-me e aqui as pessoas distraem-me.
  Assim a Senhora dos Cogumelos busca-se a si própria e outros que sigam os mesmo propósitos. Qualquer pessoa pode comentar este blogge na opção anónimo, por isso apelo a que o façam sempre que o desejarem.