Pavilhão - além das simples fogueiras na rua havia as fogueiras com
pavilhões construídos e decorados onde dançavam ranchos ensaiados,
com músicas e letras feitas de propósito.
Fonte: http://www1.ci.uc.pt/gfc/fogueiras.htm
Olá, aqui vos deixo mais algumas citações de um artigo da autoria de Rocha Peixoto, desta feita sobre o São João. Um festejo tradicional muito próximo da data do solstício estival e que, segundo o autor, assumia como carregado de reminescências de um culto solar e fálico.
“Na superstição actual é sagrada a água, da meia noite ao romper da alva, e, portanto, incorruptível; pão amassado nela dispensa o fermento; rapariga que com ela se lave fica mais escarolada; até, na tradição normanda, remoçam os velhos, só por apanharem as orvalhadas. Como na noite de S. João está benta, tira as febres e rebenta o cabelo aos calvos; é a água de longa vida; e entre todas as virtudes mais maravilhoso é o seu poder divinatório. Em Vila do Conde dirigem-se as raparigas à fonte, atiram-lhe uma pedra e cantam:
Vamos raparigas todas
À fonte de S. João,
Vamos atirar a pedra,
Ver se casamos ou não.
o que é afirmativo, nesse ano, se cai dentro. Conserva-se um bochecho de água na boca, na meia noite de S. João, até que se oiça o primeiro nome de homem, que será o do noivo; de vários papéis com nomes diversos e lançados na àgua, um se mostrará aberto ao outro dia , revelando o do desposado; [...]
Na noite de S. João as orvalhadas purificam todas as ervas, mesmo as venenosa e as malfazejas. Enramalham-se os campos e os currais com as plantas colhidas então, para não dar mal aos gados nem o bicho nas sementeiras; a mulher que deseje o cabelo comprido e basto, corta-lhe as pontas e deposita-as no rebentão das silvas; rosmaninho e funcho, alecrim e sabugueiro, servem de para defumadoiros, afastam as trovoadas e livram a casa do raio; o alho afugenta o espírito maligno; o azevinho, que se vai colher dançando em roda, tocando e cantando, é uma erva de boa sorte; enfim:
Todas as ervas são bentas,
Na manhã de S. João,
Só o trevo, coitadinho,
Fica de rastos no chão.
Menos o de quatro folhas. Esse, colhido na noite S. João e colocado sobre a pedra da ara, faz com que se despose a pessoa desejada.
Das plantas tiram-se prognósticos relativos ao amor. Em certos países as raparigas compõem um ramalhete com nove flores diversas obtidas em outros tantos terrenos diferentes e colocam-no depois à cabeceira da cama, cuidando em seguida de dormir e sonhar; o que virem em sonhos eis o que se realizará. Consultam-se as plantas, procurando presságios acerca do esposo futuro, como se solicitam os santos dos nichos:
Oh meu santo Eliseu,
Casar quero eu.
ou se indaga das aves:
Cuquinho da ramalheira,
Quantos anos me dás de solteira.[?]
Chamuscada uma alcachofra na fogueira e posta e posta depois ao relento no telhado, denunciará no outro dia, se reverdesce, a leal reciprocidade do afecto. E para avaliar em qual de ambos é mais intenso, cortam-se dois pedaços de junco muito iguais, que representam os amantes, um dos quais se mais cresceu, indica quem mais sente:
Dizes que me queres bem,
Ainda o hei-de de experimentar;
Na noite de S. João
Junco verde hei-de de cortar.
Por fim o sentido fálico primitivo das festas transmitiu-se e ainda transparece nos mais insignificantes pretextos da colheita das ervas de virtudes:
Oh que lindo luar faz,
Para colher macela;
Vamos-la colher ambinhos,
Faremos a cama nela.”
“[...] Depois dos vestígios dos cultos da água e das plantas distinguem-se ainda os que se filiam no fogo. O astro, iluminando neste dia todo o céu, tem em toda a festa que se lhe consagra, o símbolo nas fogueiras. É o galheiro ou facho da Beira Alta, nos outeiros, e as mais modestas laberedas das quintãs. [...]
Como a festa é de triunfo e de fecundidade, à fogueira também se liga uma intenção benéfica ou divinatória. O nome do pobre que se liga uma intenção benéfica ou divinatória. O nome do pobre que recebe uma moeda atirada à fogueira do S. João será o do noivo que caberá à rapariga que deu a esmola. Saltando pelas fogueiras é bom dizer:
Fogo no sargaço,
Saúde no meu braço.
Fogo no rosmaninho,
Saúde no meu peitinho.
Etc.”
Outras referências ao aspecto fálico do festival estariam segundo R. Peixoto noutras quadras que representam o Santo como um sedutor, algo inesperado e desconcertante no seio do catolicismo:
“S. João para ver as moças
Fez uma fonte de prata;
As moças não vão a ela
S. João todo se mata.”
“À porta de S. João
Nascem rosas amarelas;
S. joão subiu ao céu
A pedir pelas donzelas.
S. João diz que é velho,
É velho mas tem amores,
Que lhe acharam no bolso
Um raminho de flores.
S. joão fora bom santo
Não fora tão gaiato,
Levava as moças p’ra fonte
Iam três e vinham quatro.
Na noite S. João
É que é tomar amores,
Que estão os trigos no campo,
Todos cobertos de flores.”
“S. João adormeceu
Nas escadas do coro,
Deram as freiras com ele,
Depinicaram-no todo.”