O texto que se segue foi extraído da obra Etnografia Portuguesa de Rocha Peixoto. Trata-se de um artigo publicado originalmente no jornal O Primeiro de Janeiro, do Porto, em 1 de Maio de 1894 sobre uma festa tradicional que ocorreria à entrada de Maio e que na opinião do autor assim como na minha continha significados pagãos anteriores ao catolicismo na P. Ibérica. A qualidade desta recolha etnográfica pode conter todas as fragilidades da recolha etnográfica da sua época e quanto a isso a meu ver nada pode ser feito, no entanto pareceu-me digno de ser citado e recordado.
“[...] As giestas são associadas ainda aos enfeites das Maias e do Maio moço. Em várias terras de Portugal, como na Provença, como em outras partes, costumava-se adornar uma criança com flores, sentá-la numa mesa e rodeá-la de raparigas que cantam, dançam e tocam adufes; quem passa é perseguido até que deixe um presente à Maia. Noutras os grupos dançam pelas ruas e pedem esmola; noutras ainda é um homem a cavalo ou um rapaz todo vestido de giesta florida e acompanhado de outros rapazes e de raparigas cantando:
Este Maio, moças,
Era boticário,
Vendeu a botica
P’ra comprar um saio.
O saio era roto,
Botica perdida;
Agora, meu Maio,
Procura tua vida.
dando vivas ao Maio e dizendo quadras semelhantes.No Algarve faz-se uma boneca de palha, a Maia, coberta de flores, e em volta da qual, à noite, as raparigas bailam e cantam:
O meu Maio-moço
Ele lá vem,
Vestido de verde
Que parece bem.
O meu Maio-moço
Chama-se João,
Faz-me guarda à porta
Como um capitão.
Etc.
Em Lagos fazia-se uma procissão, no dia de hoje, em que ia um rapaz a cavalo, adornado de flores e jóias de empréstimo; como certo ano um fugisse é ofensivo perguntar a muita gente se já voltou Maio.
Noutras províncias, e no Algarve principalmente, vai-se armar a Maia celebrando um banquete no campo, bricando-se e folgando-se até que, ao escurecer, a Maia desça do seu trono tapetado de verduras. É no mês de Maio que se cumprem as promessas no Algarve; é no dia 1 que se implora a proteção da Virgem às sementeiras; é ainda hoje o dia do enramalhamento dos currais para que não dê o quebranto ou não falte o alimento aos gados.
Destas festas realizadas ao entrar o mês de Maio perdeu o povo a significação, não vendo nelas, naturalmente, os vestigios do velho mito solar em que o verão, entrando em luta com o inverno, acabava por vencê-lo. [...]”
Nem de propósito Maria Luna, eu e a Cláudia festejamos o Beltane em Faro =) O nosso litoral está repleto de tradições escondidas, mais ou menos subtis. Lembramo-nos do nosso último Beltane, e de ti com carinho*
ResponderEliminar