sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"Tu Natal, mim Yule" (dicas para uma coexistência pacífica)



  Não é só o peru que se sente ameaçado, há vários anos que vivo o dilema natalício. A dada altura da minha vida deixou de ser só a revolta pela capitalização da época, os seus crimes ecológicos e o facto de só se lembrarem dos pobres uma vez por ano. Ao assumir que não era católica passou a ser um dilema ético. Eu não queria ir à missa nem beijar o menino, gostava de fazer o presépio mas parecia-me uma falta de respeito fazê-lo.
  A revolta chegou ao ponto de me sentir como o Grinch enquanto estava à mesa durante a ceia, mas felizmente descobri alguns truques de sobrevivência. Aprendi a divertir-me com pequenas travessuras: pôr um discreto gnomo no presépio ou na àrvore de natal, mesmo debaixo do nariz cristão; acender uma bonita vela junto à janela da sala de jantar; contar uma história com principios do pensamento xamanico a uma criança irrequieta; ou oferecer um livro de mitologia comparada a um adolescente. Também iniciei uma revolução silenciosa, que muito custou ao meu ego, passei a oferecer coisas feitas por mim e a sugerir que me oferececem utilidades. E por último resignei-me à ideia de que mais vale ajudarem uma vez por ano que nunca.
  Actualmente refugio-me por detrás de uma máscara antropológica e aproveito este dia para conviver alegremente com os meus familiares. No futuro, quando tiver filhos muito provavelmente não vou fazer presépio em minha casa, mas pretendo que o façam em casa dos avós. Quero que eles conheçam e aproveitem o que eu aproveitei quando ia ao pinhal apanhar musgo. Quero que sintam o cheiro do musgo, a terra húmida nas suas mãos, o vento frio a acariciar-lhes o rosto, que vejam os cabelos dos outros cintilar com a gotas de orvalho e colham ramos com bugalhos para fazer de árvores. Quero que brinquem com os mais velhos enquanto constróem o presépio, fazendo montes e vales... E acima de tudo, quero que aprendam o sigificado do natal cristão e do yule da mãe, que respeitem ambos e que um dia possam escolher livremente.

2 comentários:

  1. hum criancinhas de cabelo vermelho a correr discretamente pela floresta enquanto procuram ervas...isso cheira-me a uma ilustração da Juliet Marillier... =)

    *Feliz Yule Maria Terra Luna*

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  2. Identifco-me bastante com o teu caso, o já tradicional dilema de ser Pagão e ter de aturar o Natal, enquanto que o que se quer e celebrar o Yule.
    Eu como ainda vivo com os meus pais, recuso-me a tocar em presépios, mas na árvore ajudo.

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